terça-feira, 14 de agosto de 2012

O PENSAMENTO FILOSÓFICO NO BRASIL


O PENSAMENTO FILOSÓFICO NO BRASIL

Em que momento tiveram início as preocupações filosóficas no Brasil?Seria apropriado nos referirmos à existência de uma possível “Filosofia brasileira”? Que pensadores têm se destacado nessa área do conhecimento? Essas são questões que ainda hoje provocam controvérsia entre os especialistas, em razão das dificuldades para caracterizar como filosófico o pensamento produzido por diversos autores que escreveram sobre a realidade brasileira.
Vários  pesquisadores voltaram suas análises para as obras publicadas ao longo da História brasileira, buscando resgatar nelas indícios de reflexões que traduzissem a realidade nacional e possíveis influências de correntes filosóficas europeias e norte-americanas. O interesse por esse assunto aumentou recentemente, quando o ensino de Filosofia(assim como o de Sociologia) tornou-se obrigatório para os estudantes do Ensino Médio em todo o país.
O registro de “perguntas filosóficas” sobre nosso modo de viver e de pensar remonta à chegada dos portugueses. Como se sabe, os povos indígenas que viviam no atual território explicavam seu mundo por meio de mitos e não desenvolveram explicações racionais sobre sua origem e vida em sociedade. Também os portugueses que deram início à colonização destas terras estavam fortemente influenciados por explicações místicas. Não havia, então, qualquer preocupação com a busca de respostas para os problemas coloniais baseadas em critérios racionais.
O ensino dos conceitos filosóficos comelou logo nos primeiros tempos de colonização, mas caracterizou-se pelo distanciamento da Filosofia em relação à realidade da população brasileira. Sob responsabilidade dos padres jesuítas, esse ensino seguia uma tradição aristotélica que em Portugal havia tomado forma desde a fundação da Universidade de Coimbra. No período compreendido entre os séculos XVI e XVIII, a educação praticada pelos jesuítas seguia um método conhecido como RATIO STUDIORUM. Por esse método, o conhecimento se fundamentava na doutrina aristotélica (buscando ser validado pela observação objetiva da realidade), mas subordinada à Teologia. Nesse contexto, o ensino de Filosofia se apoiava no princípio de que o ser humano adquire consciência de si pela conversão religiosa. Daí a importância que a ação dos missionários e pregadores assumiu naquela época.
Mesmo respeitando as barreiras que a Teologia impunha à Filosofia em terras portuguesas, houve pensadores que buscaram ultrapassar os limites da fé e dogmas religiosos por meio da razão. Dentre eles destacou-se Padre Antônio Vieira, em cuja obra alguns estudiosos identificaram influências de pensadores europeus, que modernizaram a Filosofia da época, como René Descartes.
Dentre as reflexões filosóficas que aproximam Padre Antônio Vieira de Descartes, cita-se a questão da forma como o homem se tornou ciente de si. Para este último, o primeiro princípio da Filosofia podia ser sintetizado na máxima COGITO ERGO SUM (ou seja, “Penso, logo existo”) em que o conhecimento objetivo de si mesmo se faz por meio da distinção de si como o sujeito e objeto do conhecimento. Descartes tratou da existência de um “eu” ideal, separado de sua corporeidade. De modo semelhante, Padre Vieira afirmava:
O pó, o lodo, o corpo, não é eu; eu sou a minha alma: este é o verdadeiro, o limpo e o heroico conhecimento de si mesmo; o heroico porque se conhece o homem pela parte mais sublime; o limpo porque se separa totalmente de tudo o que é terra; o verdadeiro porque ainda que o homem verdadeiramente é composto de corpo e alma, quem se conhece pela parte do corpo, ignora-se, e só quem conhece pela parte da alma se conhece.”
(Vieira, Antônio. As cinco pedras da funda de Davi, 1673. In: OS SERMÕES. Porto:Editora Lello e irmãos, 1959.v.V.p.191)
Fonte: Livro Dez lições de filosofia



Um comentário: